Dirigir sem habilitação: veja análise sobre custos para tirar a CNH no Brasil

Recentemente o Portal do Trânsito publicou algumas reportagens sobre a primeira habilitação no Brasil que levantou alguns questionamentos dos internautas. Para muitos, o número de pessoas que dirige sem habilitação no Brasil é alto, pois é muito caro para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no país.

Por esse motivo decidimos fazer uma análise sobre esses dados e tentar entender os reais custos para se habilitar no Brasil, o que isso representa dentro do cenário econômico que vive o País e, também, levantar as diferenças entre preço cobrado e valor percebido.

Custos para tirar a CNH

Os valores para tirar a CNH no Brasil podem variar dependendo do estado, município e até de Centro de Formação de Condutores (CFC) escolhido. Os preços podem variar entre R$ 1.200,00 a R$ 1.400,00 para tirar a CNH em uma das categorias (A ou B). E podem chegar a R$ 2.100,00 para habilitação em ambas as categorias (A e B).

Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Zuto Car Finance, do Reino Unido, o Brasil aparece em oitavo lugar, dentre 193 países, quando o assunto é valor para tirar a habilitação. A Croácia aparece em primeiro lugar. Lá o valor passa dos R$ 6.000,00.

Na Espanha, por exemplo o processo para tirar a carteira de motorista dura aproximadamente entre 6 e 7 meses e o valor médio total é de R$ 4.320,00. Já nos EUA, o valor varia de estado para estado e gira entre R$ 254,00 e R$ 1.524,00.

Lembrando que o processo de habilitação no Brasil consiste, além dos exames de aptidão física e mental, avaliação psicológica e exames teórico e prático, realizados pelos Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans), em um curso teórico de 45 horas-aula e um curso prático de, no mínimo, 20 horas-aula para cada categoria pretendida, A ou B.

Custos para tirar a CNH X valor percebido

Para Jucimara Fernandes, que atua em CFC de Minas Gerais, o sonho de dirigir é associado ao conceito de liberdade.

“Neste momento, o primeiro impacto que as pessoas recebem é referente ao valor para realizar esse sonho. Em Poços de Caldas, o valor médio para a prestação de serviços de primeira habilitação é de R$ 1.700,00, aproximadamente o valor médio mensal da renda familiar desse candidato. Alguns fatores envolvendo o custo desse processo são invisíveis aos olhos desse cliente”, argumenta.

Esses custos incluem formação de equipe credenciada, pagamento de taxas, infraestrutura, mão de obra qualificada e flexibilidade de horários, já que  a grande maioria dos candidatos trabalham e horário comercial e só podem fazer aulas em horários específicos. “Esses e outros fatores como aluguel do espaço, custos fixos como: combustível para os carros, manutenção, luz, água, entre outros, fazem parte do valor envolvido no processo de habilitação”, explica Jucimara.

Marcio Alexandre Correa, que atua em São Paulo, também explica sobre os custos dos CFCs.

“Em relação aos preços, sempre prezamos muito pela qualidade de ensino, com veículos novos. Todos os veículos são higienizados para cada aluno, com todos os protocolos de saúde. Além disso, nosso diferencial é a atenção dedicada ao aluno. Desde o atendimento no primeiro momento que ele chega na autoescola, até a entrega da CNH. Cuidamos de cada um individualmente”, conta.

Para Any da Silva Matos, que trabalha em um CFC no Rio de Janeiro, a formação adequada, o serviço prestado com responsabilidade e celeridade (tanto quanto possível), o veículo ou modelos veiculares bem cuidados são suficientes para justificar tal investimento.

Na visão dos profissionais que atuam na área, os CFCs otimizam a prestação de serviços ao máximo, afim de diminuir os custos, para que os candidatos possam alcançar seu objetivo.

“Estamos ao lado deles durante todas as etapas do processo. Sempre focados no objetivo, nossa missão é formar condutores defensivos, que vão transformar o trânsito em um lugar melhor”, conclui Fernandes.

Análise econômica

O Brasil, e a grande maioria dos países, ainda está sobre o forte impacto da pandemia causada pela Covid-19, tanto em aspectos sanitários, como econômicos. E isso tem contribuído para que esse valor seja considerado alto, diante de todas as dificuldades encontradas.

O economista Carlos Magno Bittencourt, membro do Conselho Regional de Economia do Paraná (CoreconPR), explica que o valor para tirar a CNH, atualmente, representa mais do que o salário mínimo, que é a quantia que grande parte dos trabalhadores brasileiros recebe como remuneração mensal.

“O mundo inteiro teve impactos desastrosos sobre suas economias, apontados claramente pelos indicadores econômicos. E isso também contribuiu para ser um obstáculo para tirar a CNH, pois tem que priorizar o que é mais importante num momento desses”, aponta.

Para Bittencourt, porém, a habilitação pode representar um investimento, pois é uma forma de aumentar os rendimentos. “Pode-se destacar que parte da população obtém a CNH a fim de obter uma vaga de emprego, ou até mesmo como promoção na empresa em que atua”, justifica.

O economista traz algumas dicas para quem quer tirar a CNH. “Como todos os segmentos sofreram com os impactos da pandemia, as autoescolas estão com promoções. Então, é importante fazer uma pesquisa de mercado, priorizando aquela mais próxima de sua casa, senão gastará com transporte coletivo. Além disso, ver aquelas que parcelam e ofertam todos os serviços com facilidade, principalmente a questão burocrática junto ao órgão de trânsito”, aconselha.


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Opinião do especialista

Para Celso Alves Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, é possível, sim, economizar com os custos para tirar a CNH. Deve-se ter em mente, porém, algumas questões que não se pode abrir mão na hora da escolha do CFC. “O processo de habilitação só se faz uma vez na vida, por isso deve ser muito bem feito”.

De acordo com o especialista, é importante que o futuro condutor faça uma análise do custo, mas também do benefício.

“A qualidade é fundamental nesse processo. O barato pode sair caro, ainda mais quando se fala em formação de condutores”, explica.

Mariano ainda faz uma comparação. “Segundo pesquisas, as pessoas trocam de celular a cada dois ou três anos. Em 2020, por exemplo, as vendas de celulares acima de R$ 2 mil tiveram alta de 266,5% no País. O que isso nos mostra? Quando as pessoas agregam ao custo o valor percebido do produto e enxergam claramente os benefícios, elas acabam comprando sem pestanejar. No caso da primeira habilitação, é preciso refletir o motivo das pessoas não perceberem o valor desse documento que será para a vida toda”, conclui.

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