Nos últimos tempos, palavras como pandemia, coronavírus, lockdown e isolamento social, por exemplo, fizeram parte do cotidiano da maioria dos brasileiros. E essa foi uma situação atípica que pegou o mundo inteiro de surpresa.
Para os profissionais que atuam em Centros de Formação de Condutores (CFCs), também não tem sido um período fácil. Primeiro, veio a paralisação dos serviços, depois, a abertura com restrições e, agora, a busca pelo “novo” normal.
Dentro do processo de adaptação ao momento, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) autorizou, em caráter excepcional, no mês de abril de 2020, que aulas dentro do curso teórico-técnico fossem realizadas na modalidade remota. Conforme o órgão nacional, o objetivo foi dar continuidade ao processo de habilitação para que nem candidatos e nem Centros de Formação de Condutores (CFCs) saíssem prejudicados.
No Paraná, por exemplo, a modalidade foi regulamentada em maio do ano passado, assim como em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Já em São Paulo, as aulas teóricas remotas foram normatizadas em junho de 2020. Em setembro do mesmo ano, em alguns estados, abriu-se a possibilidade da volta dos cursos presenciais. Atualmente, na maioria dos estados as aulas estão acontecendo nas duas modalidades, tanto presencial, como remota.
Aula teórica remota
Por conta da pandemia, as aulas remotas viabilizaram ao aluno dar continuidade ao processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), sem que ele fosse prejudicado. Essa modalidade foi mantida mesmo durante o fechamento dos Detrans, em função das medidas sanitárias.
Diante dessas informações, fomos ouvir instrutores de trânsito para saber como se adaptaram e como estão funcionando as aulas, mais de um ano depois do início da pandemia.
O instrutor Enzo de Oliveira, que atua em Barrinha, São Paulo, contou-nos que, em sua percepção, as aulas remotas não tiveram a aceitação que se imaginava.
“Das cinco autoescolas que eu trabalho, uma ainda conta com o sistema de aula remota. As outras quatro apenas aulas presenciais”, relata.
Ainda segundo o instrutor, além de ter um maior custo, as aulas remotas afetaram a aprovação dos candidatos. “Caiu bastante a qualidade e o nível de aprovação. Aqui nós trabalhamos muito sobre o nível de aprovação do índice do Detran/SP e pudermos perceber que esse índice caiu muito. Inclusive percebemos reflexo disso nas aprovações no exame prático”, argumenta Enzo.
Gisele Almeida, que trabalha na capital paulista, conta que a aceitação pode variar de acordo com a faixa etária do aluno. “Os alunos mais jovens estão aceitando bem essa nova proposta da realidade virtual, já os demais, preferem a modalidade presencial, por não serem tão autodidatas”, explica.
Mesmo assim, ela percebe problemas de adaptação ao ensino remoto dentro dos CFCs.
“Existe certa dificuldade de encontrar instrutores para ministrar aulas remotas. Os instrutores não foram receptivos a esse novo mundo”, diz.
Já no Paraná, segundo Adriane Toledo, que atua em Guarapuava, a aceitação está sendo boa por parte dos alunos. “Além de reduzir custos, como o do transporte, ainda diminui os riscos de contaminação pelo coronavírus”, explica.
A instrutora, porém, destaca um ponto de atenção.
“Percebo maior aceitação por parte dos alunos que têm uma maior velocidade de internet. Uma boa conexão é primordial para que o conteúdo programático explanado em sala de aula possa cumprir o seu papel entre o emissor e o receptor nesse processo de aprendizagem tecnológico virtual”, garante Toledo.
Didática
Mesmo com formatos diferentes e características peculiares, as duas modalidades de ensino, tanto presencial bem como a remota, exigem jogo de cintura do instrutor de trânsito para manter o engajamento do aluno durante todo o curso teórico-técnico. Some-se a isso que as aulas teóricas, que fazem parte do curso de formação de condutores, ainda são vistas por muitos alunos como uma “exigência burocrática”.
Por esse motivo, os instrutores de trânsito possuem receitas e técnicas que têm o objetivo não só de formar condutores, mas cidadãos capazes de compreender leis, regras e desenvolver um relacionamento interpessoal no trânsito.
Para Gisele, todo profissional tem o seu segredo.
“Eu tenho um ponto forte que é a persuasão e procuro usar a meu favor para que a aula se torne mais agradável. Salientando que com um plano de aula bem estruturado e utilização de materiais multimídia, a aula fica muito mais atrativa. Além disso, procuro chamar sempre os alunos pelo nome para que saibam que eu tenho a ciência da existência deles”, ressalta.
É possível usar outras estratégias para que o aluno saia do CFC com aproveitamento total das aulas e conteúdos repassados. Uma delas é o bom humor.
Apesar de ser um assunto muito sério, existem técnicas que permitem atrair a atenção do aluno. “Minhas aulas têm muitas brincadeiras, para não cair naquele marasmo. Isso ajuda tanto para mim, quanto para o futuro condutor. Nesse sentido, sou relativamente conhecido pela forma de dar aula, procurando facilitar a vida do aluno e deixando as aulas mais dinâmicas e divertidas, usando a criatividade”, relata Enzo.
A instrutora paranaense relata a importância do planejamento para a realização do trabalho com excelência, tanto na aula presencial quanto na online. “A utilização de métodos didáticos para os estilos de aprendizagem para percepção de informações, por exemplo: tanto visual, quanto auditivo ou cinestésico, que é aquele que se aproveita dos sentidos relacionados ao movimento para guardar informações. Cada indivíduo, em regra, tem predominância em um destes (predominância, e não totalidade). Vejo isso como uma mola propulsora para atrair a atenção de todos os alunos em uma sala de aula”, conta.
Aproveitamento X controle
Para garantir que os alunos estejam conectados e assistindo a aula, as plataformas, credenciadas pelos Detrans, fazem uma verificação facial no início, no intervalo e no final da aula. Além disso, em outros momentos, através de sorteios. Há relatos, porém, que mesmo assim muitos alunos burlam o sistema e não participam da aula inteira.
Um dos métodos utilizados para verificar se o aluno está atento e assistindo a aula, de acordo com Adriane Toledo, além da câmera aberta, é a participação pelo chat.
“Eu queria muito que todos ficassem com a câmera aberta, pois daria para ter maior controle para avaliar a atenção de todos em sala de aula. Existem alunos que não abrem a câmera e o microfone, mas enviam mensagens e participam pelo chat. E com esses alunos eu consigo avaliar a participação e atenção durante a aula, inclusive eles também trocam informações por esse canal, em certos debates sobre o conteúdo explanado”, diz.
A instrutora conta, também, que o controle de interação de todos nas aulas remotas é bem diferente da sala de aula presencial. “Às vezes, até devido a a velocidade baixa da internet de alguns alunos, eles mesmos são prejudicados nesse processo de aprendizagem, por conta das intempéries durante o seu acesso à plataforma digital de ensino”.
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